quinta-feira, 30 de setembro de 2010

I Love You More Than You Will


Era uma terça feira do mês de agosto, as nuvens cinzas davam um novo ar a cidade, o tempo úmido sempre me agradou demais. A chuva teimava em cair. O despertador tocou, e como de costume, me assustei. Abri os olhos, meio zonza botei os pés no chão e meu primeiro pensamento foi:
- Mais um dia sem ele. Vamos, tenha animo!
Continuei com minha rotina normal, de todas as manhãs. Já pronta, peguei minha mochila e fui a caminho da escola observando o céu, escuro, combinava comigo e com meu humor daquele dia. O frio parecia, o frio que habitava dentro de mim. Mas tudo bem, eu devia fingir que estava tudo bem, que a dor e que sua falta não me afetava mais. Cheguei no colégio, me preparando pra passar mais um dia fingindo estar bem. Nunca me dei ao trabalho de dar bom dia a ninguém, cá entre nós meu humor cedo é pior do que costuma ser durante o dia. Mas tudo bem, Marcela e Carol sempre foram muito boas em falar bobagens e me animar. Era difícil ser alguém depressiva e mau humorada junto delas. As aulas pareciam se arrastar. Quando havia duas aulas seguidas então, aquilo parecia mais a eternidade. Quem disse que “escola é bom, o ruim é estudar” estava totalmente certa, mas não posso dizer que não goste de estudar, quando me interesso pelo assunto, até gosto. Mas aquele dia não estava muito me agradando, era terça, dia 11, dali um mês eu completaria um ano com ele. E a única coisa que eu conseguia pensar era em 12 de setembro, 12 de setembro, 12 de setembro, mesmo que ainda tivesse um longo mês pela frente. Marcela sempre me conheceu melhor do que a si mesma, então me perguntou:
- Ei, Sabrina, você está legal ?
E eu, como uma boa mentirosa, apenas respondi:
- Tô sim, Ma.
E dei um sorriso frouxo.
As aulas continuaram, agora já estávamos na terceira aula, educação física, estávamos sentadas na arquibancada, jogando conversa fora. Me sentia um peixe fora d’agua quando Marcela e Carol começavam a falar de seus namorados e o quão fofos e românticos eles eram. Carol disse:
- Ontem, Rodrigo me levou pra conhecer os pais dele. Por um momento pensei que fosse morrer, sério!
Marcela respondeu:
- Cara, não sei como vai ser quando me levar na casa dele pra conhecer seus pais. Acho que vou ter um treco e não vou saber como agir. Mas ontem, fomos ao cinema, e depois ele me levou numa pizzaria. Ai, ele tem sido cada dia mais fofo!
Eu apenas olhava, e de certa forma, agia como se sentisse nojo daquelas cenas românticas demais pro meu pobre coração amargo. Mas na verdade, bem no fundo, sentia uma pontadinha de inveja. Por que não podia ser assim comigo também ? E eu mesma respondi meu pensamento, relembrando de todas as bobagens que fiz, de como agi com ele. Ah, Leandro, se soubesse como me arrependo. Como faria tudo diferente. Falei baixinho comigo mesma:
- Tudo na minha vida dá sempre errado! Sou uma boba.
Carol e Marcela me olharam, eu apenas dei um sorrisinho e disse:
- Ninguém quer saber o que eu fiz noite passada ? Fiquei em casa, mofando. Trocando de canal e me afogando em chocolate.
- Credo, que vida depressiva – disse Marcela.
- Fazer o que, se eu não tenho namoradinho igual a vocês, ocupo meu tempo com chocolate – respondi, seguido de um sorriso irônico.
- Credo Sabrina, quanto ódio. Você ainda não o esqueceu, não é ? – disse Carol.
Eu não podia mentir, meus olhos diziam tudo. Meu rosto, minha face, meu jeito nos últimos dias, nos últimos meses, entregavam que eu ainda era loucamente apaixonada por ele. Não me dei ao trabalho de responder.
- Claro que não esqueceu ainda! Tá escrito na cara dela. Ah Sabrina, para de ser idiota e ficar sofrendo por ele, depois vai se arrepender. Ele não vai voltar, bota isso na sua cabeça, continue a viver sua vida. – disse Marcela.
E Carol completou:
- É sua boba! Você acha que ele ainda lembra de você ? Ahan, tá, vai sonhando.
As palavras delas doíam tanto, porque dentro do meu ser eu sabia que era verdade, talvez. Mas não queria acreditar nisso.
- Chega! – Gritei – Eu sei o quanto dói em mim isso, eu sei a hora de parar, eu sei o que sinto, fui eu quem vivi com ele, não vocês. Pra vocês é tão fácil falando, quando se tem alguém do lado e quando sua vida é um mar de rosas é muito fácil julgar os outros. A dor é minha! Me deixem em paz e vão cuidar da vida do namorado de vocês!
Não olhei pra trás, sai rápido, fui direito ao banheiro. Meus olhos derramavam lagrimas, como sempre. Elas tinham razão.
- Por que sou tão estúpida assim, meu Deus ?! Por que ainda o amo tanto ? Ele nem mesmo lembra mais do meu nome. Já faz tanto tempo que não o vejo, ele já deve estar até com outra. – falava baixinho comigo mesma.
A dor era tão forte. Eu não sabia que ser adolescente apaixonada doía tanto assim, e eu não sabia que um garoto tinha um poder tão grande sobre meus próprios sentimentos. Que coisa, nem eu mesma conseguia os controlar! Continuei chorando baixinho, e comecei a lembrar daquele dia, de alguns meses atrás, de tudo o que ele me disse, de cada palavra, do seu cheiro, dos seus olhos nos meus, no nosso ultimo dia juntos. Lembrei dele dizendo que eu fui a única que ele realmente amou, e que eu descobri o melhor dele, um lado dele que nem ele mesmo conhecia. Ele era tão bom comigo, sempre tão carinhoso. Sempre me deixando alegre, sempre me fazendo rir, e eu, fiz aquilo com ele. Eu era uma ingrata realmente. Eu merecia tudo o que estava passando. Não tinha o direito de fazer tudo o que fiz. Onde eu estava com a cabeça quando cometi todos aqueles erros ? Mas, meu Deus, eu havia me arrependido, eu havia pedido perdão. Mas naquele dia, ele estava magoado demais pra me perdoar. Depois daquele dia, nunca mais nos vimos. Parei de sair, e evitei de frequentar os lugares que ele freqüentava, pedi pra não me falarem mais nele. Disse a todo que tinha jogado fora tudo o que ele tinha me dado. Mas na verdade, cada texto, presente, blusa dele que ainda estava comigo, estavam guardados a sete chaves. Minhas lembranças.
Ouvi o sinal tocando, estava na hora de voltar para minhas maravilhosas aulas de Química, e esperar a abençoada e tão esperada hora de ir embora. Enxuguei meu rosto, arrumei meu cabelo, e voltei pra sala, de cabeça erguida, como se nada tivesse acontecido.
- Desculpa – disse Carol.
- É, desculpa Sab – falou Marcela, me dando um abraço apertado.
- Tudo bem gente, desculpa eu, eu me irritei. Vocês estavam certas, e talvez seja por isso que eu acabe me irritando, porque eu sei que é verdade. Não vai voltar. Já acabou. – Disse eu.
- É amiga, não fica assim, bola pra frente, existem tantos garotos por ai que te merecem mais do que aquele .... narigudo - falou rindo Marcela.
Ri também, incrível, que até num momento desses elas conseguiam fazer piadinhas sem graças. Voltamos para a sala. Assistimos as ultimas aulas e eu voltei pra casa. O céu ainda estava escuro, estava começando a chover, olhei pro céu, deixei as gotas geladas da chuva percorrerem meu rosto, que logo se uniram com minhas lagrimas quentes. Já estava na hora de eu acordar para a vida, e parar de chorar por ele. Não valia a pena.
Chegando em casa, tirei meu uniforme, coloquei uma roupa quente, almocei, fiz meus deveres, e resolvi sair daquela vida depressiva. Liguei para Marina, e perguntei o que ela faria a noite, combinamos de sair. Afinal, eu não iria chamar Carol e Marcela pra sair, as duas iriam me trocar pelos namorados. Marina era solteira, como eu. Depois disso, resolvi abrir meu baú de recordações, estava decidida a jogar tudo fora. O abri e me deparei com tudo aquilo. Não tinha coragem, ainda. Fechei aquilo de novo e o empurrei novamente para debaixo da cama. Era muito cedo pra me livrar de tudo. Sentei na cama e comecei a observar minha imagem no espelho, estava acabada. Decidi ir me arrumar, logo mais iria pra algum lugar, esquecer da vida. Tomei um banho, sequei e arrumei me cabelo, me maquiei e procurei uma roupa, coloquei um salto, apesar de odia-los. Tá, era minha primeira festa desde o dia em que eu e Leandro havíamos terminado, então tinha que estar boa, ou então desistia dessa vida. Sentei na cama, e me olhei novamente no espelho, e vi como uma maquiagem e um secador podem mudar uma pessoa. Escutei Marcela me chamando. Desci, dei um beijo em minha mãe, e fui. Chegamos num barzinho, talvez eu tenha bebido um pouquinho, falei muita bobagem, e acho que devo ter beijado alguém. Assumo, estava me divertindo. Esqueci do mundo por algumas horas. Cheguei em casa em torno das três da manha, deitei na cama, e apaguei. Acordei no outro dia, atrasada, meu primeiro pensamento foi que eu estava com uma dor de cabeça horrível.
Já havia passado um mês que tinha “mudado de vida” e sinceramente, eu aparentava estar bem. Acordei, chovia, levantei zonza, como sempre, me arrumei e fui pra escola. Cheguei e já fui combinando com Mariana o que faríamos na sexta. Estava animada. Estranho. Nunca chegava animada na escola. Minhas amigas estranharam. Carol perguntou:
- Viu um passarinho verde hoje no caminho da escola, Sab?
- Por que ? Não se pode mais ser animada assim ? - respondi, rindo
- Claro que sim, deve! Fico feliz que esteja feliz, que esteja saindo e rindo. - disse Carol
- É, o tempo passou. – respondi.
As aulas passaram rápido. E logo bateu o sinal pro intervalo, ficamos sentadas na escada, como sempre jogando conversa fora e falando mal das pessoas que passavam. Voltamos pras ultimas três aulas. O tempo passou rápido, novamente. E logo o sinal tocou.
Quando eu estava saindo, uma menina me disse:
- Você é a Sabrina ? Tem alguém te procurando lá fora.
- Tá, obrigado, vou lá ver quem é – respondi, assustada.
Nem poderia imaginar quem era. Olhei do outro lado da rua, lá estava ele, olhando as pessoas que saiam do colégio, quando me viu, acenou. Respondi o aceno, assustada. O que será que ele estaria fazendo ali ? Atravessei a rua e fui até ele.
- Você ..... queria falar comigo Leandro ?
- Sim, queria sim. Como você está ? – Respondeu, me dando um beijo no rosto.
- Eu estou bem, e você ? Me diz o que quer, estou ficando preocupada. – respondi, meia tremula.
- Eu estou levando. Vem cá, senta aqui do meu lado – disse me puxando pela mão.
Sentei ao seu lado, e olhei nos seus olhos. Ah, fazia tanto tempo que eu não olhava dentro dos olhos dele, e sempre gostei tanto da cor dos olhos dele.
- Então .... – disse eu, tentando puxar assunto e sair daquele clima estranho.
- Sabrina, eu te amo. Eu nunca te esqueci. Eu sinto muito por tudo, eu sinto muito pelos danos que te causei e por todo o sofrimento que te fiz passar. Eu sempre te amei tanto. Você sempre me fez tão bem, sempre causou o melhor em mim, e eu nunca mais fui o mesmo sem você. Você me faz falta todos os dias, seu sorriso, sua voz, seu cheiro. Me perdoa, por tudo. Eu precisava dizer isso. Eu não sei se você ainda sente algo por mim. Mas eu precisava ser sincero e parar de fingir que está tudo bem, quando não está. Eu te amo ... muito ...
Eu o observava enquanto ele dizia tudo isso, meu mundo rodava, minhas pernas tremiam, minhas mãos suavam, eu piscava rápido, o mundo rodava rápido.
- Eu .... não esperava ouvir tudo isso depois de quase sete meses. Por que demorou tanto ? – respondi, meio perdida.
- Eu não sei, também me pergunto. Acho que estava esperando a poeira baixar, esperando a dor passar, e tudo se acalmar. Acho que já se passou tempo suficiente. Não dava mais pra agüentar também. – respondeu, e colocou sua mão sobre a minha.
- Sabe Leandro, eu sofri muito por você, doeu demais te perder, meu mundo caiu, tudo perdeu o sentido, você levou um pedaço de mim, e eu acreditava que você já não me amasse mais. Faz pouco tempo que voltei a viver novamente. As coisas mudaram desse um mês pra cá ....
Antes que eu pudesse completar ele disse:
- Eu entendo Sabrina, desculpa por vir aqui, estragar tudo, desculpa por demorar, por ser tão idiota ... – coloquei o dedo em seus lábios impedindo que ele pudesse falar mais uma palavra sequer. E falei:
- Me deixa terminar ... Eu disse que as coisas mudaram sim, voltei a viver e beijei outros, conheci outras pessoas, mas isso só me fez perceber que é você que eu quero ao meu lado. As coisas mudaram, mas uma coisa não mudou ... o que eu sinto por ti. Ainda é o mesmo sentimento de um ano atrás. Lembra que dia é hoje ? 12. O nosso dia. – sorri
Ele sorriu, o sorriso mais lindo, o meu sorriso favorito. Seus olhos encontram o meu. Levantou, pegou minha mão, dei um salto e fiquei frente a frente a ele novamente, no mesmo momento o abracei, bem forte, o abraço mais quente, naqueles braços que pareciam ser o encaixe perfeito do meu corpo. Parecia que tudo voltava a ter sentido. Olhei novamente em seus olhos e disse:
-Sabe, eu sabia que você voltaria, não importava o tempo que passasse, nem onde você estivesse, nem com quem estivesse. Você me disse uma vez que o amor que sentia por mim era mais que qualquer dificuldade. Eu sabia que voltaria. Estou te esperando ainda, desde o dia que você partiu. Eu sabia, porque te conheço, porque te amo, porque sei que é recíproco. Porque sei que você sempre voltará pra mim.
- Esqueça de todos os erros, de tudo o que fizemos, e volte a ser minha – disse ele, todo encantador, como sempre.
Segurou minha cintura, meus braços envolveram seu pescoço, encostei minha testa na dele, olhei dentro dos seus olhos e disse:
- Eu te amo, Leandro. Não importa quanto tempo passar, estarei aqui pra te esperar.
Seus lábios encontraram novamente os meus, seu cheiro estava novamente pelo ar. Depois daquelas palavras, depois daquele beijo, seriamos eternos amantes, havíamos nos tornado um só.
Acordei assustada, com minha mãe gritando e me cutucando, dizendo que Mariana havia chegado. Sweet Dreams Sabrina. Apenas sonhos.


Minha autoria, pra aula de Prod. Textual.

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