quinta-feira, 30 de setembro de 2010

I Love You More Than You Will


Era uma terça feira do mês de agosto, as nuvens cinzas davam um novo ar a cidade, o tempo úmido sempre me agradou demais. A chuva teimava em cair. O despertador tocou, e como de costume, me assustei. Abri os olhos, meio zonza botei os pés no chão e meu primeiro pensamento foi:
- Mais um dia sem ele. Vamos, tenha animo!
Continuei com minha rotina normal, de todas as manhãs. Já pronta, peguei minha mochila e fui a caminho da escola observando o céu, escuro, combinava comigo e com meu humor daquele dia. O frio parecia, o frio que habitava dentro de mim. Mas tudo bem, eu devia fingir que estava tudo bem, que a dor e que sua falta não me afetava mais. Cheguei no colégio, me preparando pra passar mais um dia fingindo estar bem. Nunca me dei ao trabalho de dar bom dia a ninguém, cá entre nós meu humor cedo é pior do que costuma ser durante o dia. Mas tudo bem, Marcela e Carol sempre foram muito boas em falar bobagens e me animar. Era difícil ser alguém depressiva e mau humorada junto delas. As aulas pareciam se arrastar. Quando havia duas aulas seguidas então, aquilo parecia mais a eternidade. Quem disse que “escola é bom, o ruim é estudar” estava totalmente certa, mas não posso dizer que não goste de estudar, quando me interesso pelo assunto, até gosto. Mas aquele dia não estava muito me agradando, era terça, dia 11, dali um mês eu completaria um ano com ele. E a única coisa que eu conseguia pensar era em 12 de setembro, 12 de setembro, 12 de setembro, mesmo que ainda tivesse um longo mês pela frente. Marcela sempre me conheceu melhor do que a si mesma, então me perguntou:
- Ei, Sabrina, você está legal ?
E eu, como uma boa mentirosa, apenas respondi:
- Tô sim, Ma.
E dei um sorriso frouxo.
As aulas continuaram, agora já estávamos na terceira aula, educação física, estávamos sentadas na arquibancada, jogando conversa fora. Me sentia um peixe fora d’agua quando Marcela e Carol começavam a falar de seus namorados e o quão fofos e românticos eles eram. Carol disse:
- Ontem, Rodrigo me levou pra conhecer os pais dele. Por um momento pensei que fosse morrer, sério!
Marcela respondeu:
- Cara, não sei como vai ser quando me levar na casa dele pra conhecer seus pais. Acho que vou ter um treco e não vou saber como agir. Mas ontem, fomos ao cinema, e depois ele me levou numa pizzaria. Ai, ele tem sido cada dia mais fofo!
Eu apenas olhava, e de certa forma, agia como se sentisse nojo daquelas cenas românticas demais pro meu pobre coração amargo. Mas na verdade, bem no fundo, sentia uma pontadinha de inveja. Por que não podia ser assim comigo também ? E eu mesma respondi meu pensamento, relembrando de todas as bobagens que fiz, de como agi com ele. Ah, Leandro, se soubesse como me arrependo. Como faria tudo diferente. Falei baixinho comigo mesma:
- Tudo na minha vida dá sempre errado! Sou uma boba.
Carol e Marcela me olharam, eu apenas dei um sorrisinho e disse:
- Ninguém quer saber o que eu fiz noite passada ? Fiquei em casa, mofando. Trocando de canal e me afogando em chocolate.
- Credo, que vida depressiva – disse Marcela.
- Fazer o que, se eu não tenho namoradinho igual a vocês, ocupo meu tempo com chocolate – respondi, seguido de um sorriso irônico.
- Credo Sabrina, quanto ódio. Você ainda não o esqueceu, não é ? – disse Carol.
Eu não podia mentir, meus olhos diziam tudo. Meu rosto, minha face, meu jeito nos últimos dias, nos últimos meses, entregavam que eu ainda era loucamente apaixonada por ele. Não me dei ao trabalho de responder.
- Claro que não esqueceu ainda! Tá escrito na cara dela. Ah Sabrina, para de ser idiota e ficar sofrendo por ele, depois vai se arrepender. Ele não vai voltar, bota isso na sua cabeça, continue a viver sua vida. – disse Marcela.
E Carol completou:
- É sua boba! Você acha que ele ainda lembra de você ? Ahan, tá, vai sonhando.
As palavras delas doíam tanto, porque dentro do meu ser eu sabia que era verdade, talvez. Mas não queria acreditar nisso.
- Chega! – Gritei – Eu sei o quanto dói em mim isso, eu sei a hora de parar, eu sei o que sinto, fui eu quem vivi com ele, não vocês. Pra vocês é tão fácil falando, quando se tem alguém do lado e quando sua vida é um mar de rosas é muito fácil julgar os outros. A dor é minha! Me deixem em paz e vão cuidar da vida do namorado de vocês!
Não olhei pra trás, sai rápido, fui direito ao banheiro. Meus olhos derramavam lagrimas, como sempre. Elas tinham razão.
- Por que sou tão estúpida assim, meu Deus ?! Por que ainda o amo tanto ? Ele nem mesmo lembra mais do meu nome. Já faz tanto tempo que não o vejo, ele já deve estar até com outra. – falava baixinho comigo mesma.
A dor era tão forte. Eu não sabia que ser adolescente apaixonada doía tanto assim, e eu não sabia que um garoto tinha um poder tão grande sobre meus próprios sentimentos. Que coisa, nem eu mesma conseguia os controlar! Continuei chorando baixinho, e comecei a lembrar daquele dia, de alguns meses atrás, de tudo o que ele me disse, de cada palavra, do seu cheiro, dos seus olhos nos meus, no nosso ultimo dia juntos. Lembrei dele dizendo que eu fui a única que ele realmente amou, e que eu descobri o melhor dele, um lado dele que nem ele mesmo conhecia. Ele era tão bom comigo, sempre tão carinhoso. Sempre me deixando alegre, sempre me fazendo rir, e eu, fiz aquilo com ele. Eu era uma ingrata realmente. Eu merecia tudo o que estava passando. Não tinha o direito de fazer tudo o que fiz. Onde eu estava com a cabeça quando cometi todos aqueles erros ? Mas, meu Deus, eu havia me arrependido, eu havia pedido perdão. Mas naquele dia, ele estava magoado demais pra me perdoar. Depois daquele dia, nunca mais nos vimos. Parei de sair, e evitei de frequentar os lugares que ele freqüentava, pedi pra não me falarem mais nele. Disse a todo que tinha jogado fora tudo o que ele tinha me dado. Mas na verdade, cada texto, presente, blusa dele que ainda estava comigo, estavam guardados a sete chaves. Minhas lembranças.
Ouvi o sinal tocando, estava na hora de voltar para minhas maravilhosas aulas de Química, e esperar a abençoada e tão esperada hora de ir embora. Enxuguei meu rosto, arrumei meu cabelo, e voltei pra sala, de cabeça erguida, como se nada tivesse acontecido.
- Desculpa – disse Carol.
- É, desculpa Sab – falou Marcela, me dando um abraço apertado.
- Tudo bem gente, desculpa eu, eu me irritei. Vocês estavam certas, e talvez seja por isso que eu acabe me irritando, porque eu sei que é verdade. Não vai voltar. Já acabou. – Disse eu.
- É amiga, não fica assim, bola pra frente, existem tantos garotos por ai que te merecem mais do que aquele .... narigudo - falou rindo Marcela.
Ri também, incrível, que até num momento desses elas conseguiam fazer piadinhas sem graças. Voltamos para a sala. Assistimos as ultimas aulas e eu voltei pra casa. O céu ainda estava escuro, estava começando a chover, olhei pro céu, deixei as gotas geladas da chuva percorrerem meu rosto, que logo se uniram com minhas lagrimas quentes. Já estava na hora de eu acordar para a vida, e parar de chorar por ele. Não valia a pena.
Chegando em casa, tirei meu uniforme, coloquei uma roupa quente, almocei, fiz meus deveres, e resolvi sair daquela vida depressiva. Liguei para Marina, e perguntei o que ela faria a noite, combinamos de sair. Afinal, eu não iria chamar Carol e Marcela pra sair, as duas iriam me trocar pelos namorados. Marina era solteira, como eu. Depois disso, resolvi abrir meu baú de recordações, estava decidida a jogar tudo fora. O abri e me deparei com tudo aquilo. Não tinha coragem, ainda. Fechei aquilo de novo e o empurrei novamente para debaixo da cama. Era muito cedo pra me livrar de tudo. Sentei na cama e comecei a observar minha imagem no espelho, estava acabada. Decidi ir me arrumar, logo mais iria pra algum lugar, esquecer da vida. Tomei um banho, sequei e arrumei me cabelo, me maquiei e procurei uma roupa, coloquei um salto, apesar de odia-los. Tá, era minha primeira festa desde o dia em que eu e Leandro havíamos terminado, então tinha que estar boa, ou então desistia dessa vida. Sentei na cama, e me olhei novamente no espelho, e vi como uma maquiagem e um secador podem mudar uma pessoa. Escutei Marcela me chamando. Desci, dei um beijo em minha mãe, e fui. Chegamos num barzinho, talvez eu tenha bebido um pouquinho, falei muita bobagem, e acho que devo ter beijado alguém. Assumo, estava me divertindo. Esqueci do mundo por algumas horas. Cheguei em casa em torno das três da manha, deitei na cama, e apaguei. Acordei no outro dia, atrasada, meu primeiro pensamento foi que eu estava com uma dor de cabeça horrível.
Já havia passado um mês que tinha “mudado de vida” e sinceramente, eu aparentava estar bem. Acordei, chovia, levantei zonza, como sempre, me arrumei e fui pra escola. Cheguei e já fui combinando com Mariana o que faríamos na sexta. Estava animada. Estranho. Nunca chegava animada na escola. Minhas amigas estranharam. Carol perguntou:
- Viu um passarinho verde hoje no caminho da escola, Sab?
- Por que ? Não se pode mais ser animada assim ? - respondi, rindo
- Claro que sim, deve! Fico feliz que esteja feliz, que esteja saindo e rindo. - disse Carol
- É, o tempo passou. – respondi.
As aulas passaram rápido. E logo bateu o sinal pro intervalo, ficamos sentadas na escada, como sempre jogando conversa fora e falando mal das pessoas que passavam. Voltamos pras ultimas três aulas. O tempo passou rápido, novamente. E logo o sinal tocou.
Quando eu estava saindo, uma menina me disse:
- Você é a Sabrina ? Tem alguém te procurando lá fora.
- Tá, obrigado, vou lá ver quem é – respondi, assustada.
Nem poderia imaginar quem era. Olhei do outro lado da rua, lá estava ele, olhando as pessoas que saiam do colégio, quando me viu, acenou. Respondi o aceno, assustada. O que será que ele estaria fazendo ali ? Atravessei a rua e fui até ele.
- Você ..... queria falar comigo Leandro ?
- Sim, queria sim. Como você está ? – Respondeu, me dando um beijo no rosto.
- Eu estou bem, e você ? Me diz o que quer, estou ficando preocupada. – respondi, meia tremula.
- Eu estou levando. Vem cá, senta aqui do meu lado – disse me puxando pela mão.
Sentei ao seu lado, e olhei nos seus olhos. Ah, fazia tanto tempo que eu não olhava dentro dos olhos dele, e sempre gostei tanto da cor dos olhos dele.
- Então .... – disse eu, tentando puxar assunto e sair daquele clima estranho.
- Sabrina, eu te amo. Eu nunca te esqueci. Eu sinto muito por tudo, eu sinto muito pelos danos que te causei e por todo o sofrimento que te fiz passar. Eu sempre te amei tanto. Você sempre me fez tão bem, sempre causou o melhor em mim, e eu nunca mais fui o mesmo sem você. Você me faz falta todos os dias, seu sorriso, sua voz, seu cheiro. Me perdoa, por tudo. Eu precisava dizer isso. Eu não sei se você ainda sente algo por mim. Mas eu precisava ser sincero e parar de fingir que está tudo bem, quando não está. Eu te amo ... muito ...
Eu o observava enquanto ele dizia tudo isso, meu mundo rodava, minhas pernas tremiam, minhas mãos suavam, eu piscava rápido, o mundo rodava rápido.
- Eu .... não esperava ouvir tudo isso depois de quase sete meses. Por que demorou tanto ? – respondi, meio perdida.
- Eu não sei, também me pergunto. Acho que estava esperando a poeira baixar, esperando a dor passar, e tudo se acalmar. Acho que já se passou tempo suficiente. Não dava mais pra agüentar também. – respondeu, e colocou sua mão sobre a minha.
- Sabe Leandro, eu sofri muito por você, doeu demais te perder, meu mundo caiu, tudo perdeu o sentido, você levou um pedaço de mim, e eu acreditava que você já não me amasse mais. Faz pouco tempo que voltei a viver novamente. As coisas mudaram desse um mês pra cá ....
Antes que eu pudesse completar ele disse:
- Eu entendo Sabrina, desculpa por vir aqui, estragar tudo, desculpa por demorar, por ser tão idiota ... – coloquei o dedo em seus lábios impedindo que ele pudesse falar mais uma palavra sequer. E falei:
- Me deixa terminar ... Eu disse que as coisas mudaram sim, voltei a viver e beijei outros, conheci outras pessoas, mas isso só me fez perceber que é você que eu quero ao meu lado. As coisas mudaram, mas uma coisa não mudou ... o que eu sinto por ti. Ainda é o mesmo sentimento de um ano atrás. Lembra que dia é hoje ? 12. O nosso dia. – sorri
Ele sorriu, o sorriso mais lindo, o meu sorriso favorito. Seus olhos encontram o meu. Levantou, pegou minha mão, dei um salto e fiquei frente a frente a ele novamente, no mesmo momento o abracei, bem forte, o abraço mais quente, naqueles braços que pareciam ser o encaixe perfeito do meu corpo. Parecia que tudo voltava a ter sentido. Olhei novamente em seus olhos e disse:
-Sabe, eu sabia que você voltaria, não importava o tempo que passasse, nem onde você estivesse, nem com quem estivesse. Você me disse uma vez que o amor que sentia por mim era mais que qualquer dificuldade. Eu sabia que voltaria. Estou te esperando ainda, desde o dia que você partiu. Eu sabia, porque te conheço, porque te amo, porque sei que é recíproco. Porque sei que você sempre voltará pra mim.
- Esqueça de todos os erros, de tudo o que fizemos, e volte a ser minha – disse ele, todo encantador, como sempre.
Segurou minha cintura, meus braços envolveram seu pescoço, encostei minha testa na dele, olhei dentro dos seus olhos e disse:
- Eu te amo, Leandro. Não importa quanto tempo passar, estarei aqui pra te esperar.
Seus lábios encontraram novamente os meus, seu cheiro estava novamente pelo ar. Depois daquelas palavras, depois daquele beijo, seriamos eternos amantes, havíamos nos tornado um só.
Acordei assustada, com minha mãe gritando e me cutucando, dizendo que Mariana havia chegado. Sweet Dreams Sabrina. Apenas sonhos.


Minha autoria, pra aula de Prod. Textual.

Minha história.


Horas encarando o papel e a caneta, e as palavras teimam em não sair. Estou aqui para falar sobre o novo, sobre o inesperado, sobre o futuro que nos aguarda, sobre a história da nossa vida, sobre o que cabe a nós contruir. Não sei se acredito em destino, mas hoje, me convem acreditar no não-destino, prefiro acreditar que tudo acontece porque eu fiz desse modo e não porque era pra ser. Eu quero construir minha história, não quero vir ao mundo com uma história certa. Por um momento, gostaria de sentir que essa vida é realmente minha, gostaria de fazer as burradas que quisesse, e me machucar o quanto eu desejasse, e que ninguém interferisse. Quero chorar por alguém. Quero amar alguém que está longe. Quero sentir a dor do amor, ou da desilusão. Quero sorrir e rir das minimas coisas da vida. Quero chorar de felicidade, de emoção. Quero sentir arrepio. Quero novos ares, novos sabores. Quero o frio, quero o calor, o sol e a chuva. Quero o vento em minha face. Quero fazer o que bem entender. Quero ser mais eu. Quero sorrir mais. Quero me divertir mais, chingar e amar mais. Outubro, venha, mais um mês, que seja doce, que seja quente, que seja frio, que seja feliz e triste, que seja tudo o que podes ser, e que seja mais ainda. Seja repleto de surpresas. Mude minha vida, sweet Outubro.
Em Outubro tudo muda.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sobre A e B. Pt 2

B: E eu te amo, da mesma forma que você o ama.
A: Sim, e eu nunca te amarei mais do que amei e amo ele.
B: Nunca ?
A: Nunca.
B: E todas as vezes que falou que me amava ?
A: Menti.
B: Por que ?
A: Tentei achar minha felicidade na felicidade de um outro alguém, mas ...
B: Mas ? Não te fiz feliz o bastante ? Não foi romantico o bastante ?
A: Mas eu não posso achar minha felicidade em outras pessoas. A felicidade está em mim.
B: Não parece feliz agora.
A: Não estou.
B: Então, se a felicidade está em você, não te vejo feliz agora. Como vai fazer pra ser feliz ?
A: Sabe, naquele dia, quando você me disse tudo aquilo, você me machucou muito. E eu acabei perdendo ele. Eu sofri pelo sofrimento dele, por ele ter sofrido pelos nossos problemas. E desde o dia que o perdi, ele levou um pedaço de mim, a melhor parte de mim, a parte mais bela e pura, a parte onde eu guardo meus melhores sentimentos, foram com ele. São direitos dele. Afinal, foi ele quem construiu aquela parte. Perdi essa parte, perdi minha felicidade. Mas acredite, de alguma forma, um dia ou outro, vou encontra-la novamente, em outra pessoa.
B: E como você sabe que essa pessoa não sou eu ?
A: Meu coração não dispara com você, minhas pernas não amolecem, e você não é o assunto dos meus intervalos de escola. Não é de ti que eu lembro quando ouço musicas, e não é por ti que meus olhos brilham. Sinais faceis de serem vistos.
B: Eu te amo. Por favor ...
A: Eu sinto muito. Não me procure mais, vá viver sua vida. Adeus.

Sobre A e B. Pt 1

A: E fim.
B: É assim que vai acabar ?
A: Sim.
B: Por causa dele, mais uma vez!
A: Sim.
B: É apenas isso que você tem a dizer ?
A: Eu sinto muito. Você me tirou algo que eu amava muito.
B: E doeu não doeu ?
A: Sim.
B: Então ... não me faça sentir a mesma dor, não saia da minha vida.
A: Você quis assim. Eu errei, e erro em ainda te perdoar, depois de todos os seus erros.
B: Ele nunca errou ?
A: Não queira culpa-lo, você fez as coisas desse jeito naquele dia. Falando tudo o que tinha vontade. Foi homem pra isso. Agora aguente a dor de perder algo, que ama, ou não. Porque se amasse tanto, não me deixaria assim.
B: Eu te amo muito.
A: Eu amo ele.
B: Como pode ainda ama-lo ?!
A: Como pode ainda me amar ?
B: Você está aqui, presente, comigo. Ele não.
A: Acredite, ele sempre estará vivo dentro de mim, passe o tempo que passar. Eu o amo.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

E nada que eu faça vai mudar ...
Queria tanto ouvir sua voz aqui.
Queria tanto acariciar seu rosto e lhe dizer o quanto é importante sua presença ao meu lado todos os dias.
Queria ouvir a doce melodia do seu riso.
Queria, então, me afogar nos seus olhos, que possuem uma cor tão diferente, minha cor favorita. Seus olhos. Queria olhar dentro deles e, além de observar minha imagem, ver que tudo o que sinto por ti é reciproco, que sentes o mesmo.
Queria sentir o doce sabor da sua boca, queria sentir o calor do seu corpo, colado ao meu.
Queria te dar o maior abraço do mundo.
Mas ao inves disso, me afogo em lagrimas e lembranças.
A minha unica compania é a solidão.
O sentimento mais intenso que sinto é o vazio.
Sinto apenas o cheiro do meu cabelo molhado, vejo apenas a minha imagem destorcida no espelho, e meus olhos só mostram o quanto me sinto só. Fundos, tão fundos.
Não ouço a doce melodia do seu riso, apenas os meus suspiros pesados.
Na minha boca, só o gosto amargo da desilusão.
O frio me visita todo dia, e o unico calor que posso sentir é o das cobertas, quando deito em minha cama, na profunda escuridão, me encolho pensando que assim, a dor irá diminuir, e fecho os olhos, tentando achar um caminho mais facil pra dor passar.
Seja ele qual for.
ELA SUBIU sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.
Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinham um jeito jovial de estudante.
- Minha querida Raquel.
Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos.
- Vejam que lama. Só mesmo você inventaria um encontro num lugar destes. Que idéia, Ricardo, que idéia! Tive que descer do taxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima
Ele sorriu entre malicioso e ingênuo.
- Jamais, não é? Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância...Quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete-léguas, lembra?
- Foi para falar sobre isso que você me fez subir até aqui? - perguntou ela, guardando as luvas na bolsa. Tirou um cigarro. - Hem?!
- Ah, Raquel... - e ele tomou-a pelo braço rindo.
- Você está uma coisa de linda. E fuma agora uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado...Juro que eu tinha que ver uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então fiz mal?
- Podia ter escolhido um outro lugar, não? – Abrandara a voz – E que é isso aí? Um cemitério?
Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem.
- Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo – acrescentou, lançando um olhar às crianças rodando na sua ciranda. Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. Sorriu. - Ricardo e suas idéias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo do mundo.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada.
- Ver o pôr do sol!...Ah, meu Deus...Fabuloso, fabuloso!...Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma! E para quê? Para ver o pôr do sol num cemitério...
Ele riu também, afetando encabulamento como um menino pilhado em falta.
- Raquel minha querida, não faça assim comigo. Você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu apartamento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível. Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura...
- E você acha que eu iria?
- Não se zangue, sei que não iria, você está sendo fidelíssima. Então pensei, se pudéssemos conversar um instante numa rua afastada...- disse ele, aproximando-se mais. Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos. Ficou sério. E aos poucos, inúmeras rugazinhas foram se formando em redor dos seus olhos ligeiramente apertados. Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta. Não era nesse instante tão jovem como aparentava. Mas logo sorriu e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígio. Voltou-lhe novamente o ar inexperiente e meio desatento –Você fez bem em vir.
- Quer dizer que o programa... E não podíamos tomar alguma coisa num bar?
- Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
- Mas eu pago.
- Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi este passeio porque é de graça e muito decente, não pode haver passeio mais decente, não concorda comigo? Até romântico.
Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava.
- Foi um risco enorme Ricardo. Ele é ciumentíssimo. Está farto de saber que tive meus casos. Se nos pilha juntos, então sim, quero ver se alguma das suas fabulosas idéias vai me consertar a vida.
- Mas me lembrei deste lugar justamente porque não quero que você se arrisque, meu anjo. Não tem lugar mais discreto do que um cemitério abandonado, veja, completamente abandonado – prosseguiu ele, abrindo o portão. Os velhos gonzos gemeram. – Jamais seu amigo ou um amigo do seu amigo saberá que estivemos aqui.
- É um risco enorme, já disse . Não insista nessas brincadeiras, por favor. E se vem um enterro? Não suporto enterros.
- Mas enterro de quem? Raquel, Raquel, quantas vezes preciso repetir a mesma coisa?! Há séculos ninguém mais é enterrado aqui, acho que nem os ossos sobraram, que bobagem. Vem comigo, pode me dar o braço, não tenha medo...
O mato rasteiro dominava tudo. E, não satisfeito de ter se alastrado furioso pelos canteiros, subira pelas sepulturas, infiltrando-se ávido pelos rachões dos mármores, invadira alamedas de pedregulhos esverdinhados, como se quisesse com a sua violenta força de vida cobrir para sempre os últimos vestígios da morte. Foram andando vagarosamente pela longa alameda banhada de sol. Os passos de ambos ressoavam sonoros como uma estranha música feita do som das folhas secas trituradas sobre os pedregulhos. Amuada mas obediente, ela se deixava conduzir como uma criança. Às vezes mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com os pálidos medalhões de retratos esmaltados.
- É imenso, hem? E tão miserável, nunca vi um cemitério mais miserável, é deprimente – exclamou ela atirando a ponta do cigarro na direção de um anjinho de cabeça decepada.- Vamos embora, Ricardo, chega.
- Ah, Raquel, olha um pouco para esta tarde! Deprimente por quê? Não sei onde foi que eu li, a beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da tarde, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa ambigüidade. Estou lhe dando um crepúsculo numa bandeja e você se queixa.
- Não gosto de cemitério, já disse. E ainda mais cemitério pobre.
Delicadamente ele beijou-lhe a mão.
- Você prometeu dar um fim de tarde a este seu escravo.
- É, mas fiz mal. Pode ser muito engraçado, mas não quero me arriscar mais.
- Ele é tão rico assim?
- Riquíssimo. Vai me levar agora numa viagem fabulosa até o Oriente. Já ouviu falar no Oriente? Vamos até o Oriente, meu caro...
Ele apanhou um pedregulho e fechou-o na mão. A pequenina rede de rugas voltou a se estender em redor dos seus olhos. A fisionomia, tão aberta e lisa, repentinamente escureceu, envelhecida. Mas logo o sorriso reapareceu e as rugazinhas sumiram.
- Eu também te levei um dia para passear de barco, lembra?
Recostando a cabeça no ombro do homem, ela retardou o passo.
- Sabe Ricardo, acho que você é mesmo tantã...Mas, apesar de tudo, tenho às vezes saudade daquele tempo. Que ano aquele! Palavra que, quando penso, não entendo até hoje como agüentei tanto, imagine um ano.
- É que você tinha lido A dama das Camélias, ficou assim toda frágil, toda sentimental. E agora? Que romance você está lendo agora. Hem?
- Nenhum - respondeu ela, franzindo os lábios. Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçada: - A minha querida esposa, eternas saudades - leu em voz baixa. Fez um muxoxo.- Pois sim. Durou pouco essa eternidade.
Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto. Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos. Veja- disse, apontando uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda -, o musgo já cobriu o nome na pedra. Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas...Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso.
Ela aconchegou-se mais a ele. Bocejou.
- Está bem, mas agora vamos embora que já me diverti muito, faz tempo que não me divirto tanto, só mesmo um cara como você podia me fazer divertir assim – Deu-lhe um rápido beijo na face. - Chega Ricardo, quero ir embora.
- Mais alguns passos...
- Mas este cemitério não acaba mais, já andamos quilômetros! – Olhou para atrás. – Nunca andei tanto, Ricardo, vou ficar exausta.
- A boa vida te deixou preguiçosa. Que feio – lamentou ele, impelindo-a para frente. – Dobrando esta alameda, fica o jazigo da minha gente, é de lá que se vê o pôr do sol. – E, tomando-a pela cintura: - Sabe, Raquel, andei muitas vezes por aqui de mãos dadas com minha prima. Tínhamos então doze anos. Todos os domingos minha mãe vinha trazer flores e arrumar nossa capelinha onde já estava enterrado meu pai. Eu e minha priminha vínhamos com ela e ficávamos por aí, de mãos dadas, fazendo tantos planos. Agora as duas estão mortas.
- Sua prima também?
- Também. Morreu quando completou quinze anos. Não era propriamente bonita, mas tinha uns olhos...Eram assim verdes como os seus, parecidos com os seus. Extraordinário, Raquel, extraordinário como vocês duas...Penso agora que toda a beleza dela residia apenas nos olhos, assim meio oblíquos, como os seus.
- Vocês se amaram?
- Ela me amou. Foi a única criatura que...- Fez um gesto. – Enfim não tem importância.
Raquel tirou-lhe o cigarro, tragou e depois devolveu-o
- Eu gostei de você, Ricardo.
- E eu te amei. E te amo ainda. Percebe agora a diferença?
Um pássaro rompeu o cipreste e soltou um grito. Ela estremeceu.
- Esfriou, não? Vamos embora.
- Já chegamos, meu anjo. Aqui estão meus mortos.
Pararam diante de uma capelinha coberta de alto a baixo por uma trepadeira selvagem, que a envolvia num furioso abraço de cipós e folhas. A estreita porta rangeu quando ele a abriu de par em par. A luz invadiu um cubículo de paredes enegrecidas, cheias de estrias de antigas goteiras. No centro do cubículo, um altar meio desmantelado, coberto por uma toalha que adquirira a cor do tempo. Dois vasos de desbotada opalina ladeavam um tosco crucifixo de madeira. Entre os braços da cruz, uma aranha tecera dois triângulos de teias já rompidas, pendendo como farrapos de um manto que alguém colocara sobre os ombro do Cristo. Na parede lateral, à direita da porta, uma portinhola de ferro dando acesso para uma escada de pedra, descendo em caracol para a catacumba.
Ela entrou na ponta dos pés, evitando roçar mesmo de leve naqueles restos da capelinha.
- Que triste é isto, Ricardo. Nunca mais você esteve aqui?
Ele tocou na face da imagem recoberta de poeira. Sorriu melancólico.
- Sei que você gostaria de encontrar tudo limpinho, flores nos vasos, velas, sinais da minha dedicação, certo?
- Mas já disse que o que eu mais amo neste cemitério é precisamente esse abandono, esta solidão. As pontes com o outro mundo foram cortadas e aqui a morte se isolou total. Absoluta.
Ela adiantou-se e espiou através das enferrujadas barras de ferro da portinhola. Na semi-obscuridade do subsolo, os gavetões se estendiam ao longo das quatro paredes que formavam um estreito retângulo cinzento.
- E lá embaixo?
- Pois lá estão as gavetas. E, nas gavetas, minhas raízes. Pó, meu anjo, pó- murmurou ele. Abriu a portinhola e desceu a escada. Aproximou-se de uma gaveta no centro da parede, segurando firme na alça de bronze, como se fosse puxá-la. – A cômoda de pedra. Não é grandiosa?
Detendo-se no topo da escada, ela inclinou-se mais para ver melhor.
- Todas estas gavetas estão cheias?
- Cheias?...- Sorriu.- Só as que tem o retrato e a inscrição, está vendo? Nesta está o retrato da minha mãe, aqui ficou minha mãe- prosseguiu ele, tocando com as pontas dos dedos num medalhão esmaltado, embutido no centro da gaveta.
Ela cruzou os braços. Falou baixinho, um ligeiro tremor na voz.
- Vamos, Ricardo, vamos.
- Você está com medo?
- Claro que não, estou é com frio. Suba e vamos embora, estou com frio!
Ele não respondeu. Adiantara-se até um dos gavetões na parede oposta e acendeu um fósforo. Inclinou-se para o medalhão frouxamente iluminado:
- A priminha Maria Emília. Lembro-me até do dia em que tirou esse retrato. Foi umas duas semanas antes de morrer... Prendeu os cabelos com uma fita azul e vejo-a se exibir, estou bonita? Estou bonita?...- Falava agora consigo mesmo, doce e gravemente.- Não, não é que fosse bonita, mas os olhos...Venha ver, Raquel, é impressionante como tinha olhos iguais aos seus.
Ela desceu a escada, encolhendo-se para não esbarrar em nada.
- Que frio que faz aqui. E que escuro, não estou enxergando...
Acendendo outro fósforo, ele ofereceu-o à companheira.
- Pegue, dá para ver muito bem...- Afastou-se para o lado.- Repare nos olhos.
- Mas estão tão desbotados, mal se vê que é uma moça...- Antes da chama se apagar, aproximou-a da inscrição feita na pedra. Leu em voz alta, lentamente.- Maria Emília, nascida em vinte de maio de mil oitocentos e falecida...- Deixou cair o palito e ficou um instante imóvel – Mas esta não podia ser sua namorada, morreu há mais de cem anos! Seu menti...
Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou o olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha seu sorriso meio inocente, meio malicioso.
- Isto nunca foi o jazigo da sua família, seu mentiroso? Brincadeira mais cretina! – exclamou ela, subindo rapidamente a escada. – Não tem graça nenhuma, ouviu?
Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
- Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco.- Detesto esse tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida!
- Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastando devagarinho, bem devagarinho. Você terá o pôr do sol mais belo do mundo.
Ela sacudia a portinhola.
- Ricardo, chega, já disse! Chega! Abre imediatamente, imediatamente!- Sacudiu a portinhola com mais força ainda, agarrou-se a ela, dependurando-se por entre as grades. Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas. Ensaiou um sorriso. - Ouça, meu bem, foi engraçadíssimo, mas agora preciso ir mesmo, vamos, abra...
Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuídos. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.
- Boa noite, Raquel.
- Chega, Ricardo! Você vai me pagar!... - gritou ela, estendendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo.- Cretino! Me dá a chave desta porcaria, vamos!- exigiu, examinando a fechadura nova em folha. Examinou em seguida as grades cobertas por uma crosta de ferrugem. Imobilizou-se. Foi erguendo o olhar até a chave que ele balançava pela argola, como um pêndulo. Encarou-o, apertando contra a grade a face sem cor. Esbugalhou os olhos num espasmo e amoleceu o corpo. Foi escorregando.
- Não, não...
Voltado ainda para ela, ele chegara até a porta e abriu os braços. Foi puxando as duas folhas escancaradas.
- Boa noite, meu anjo.
Os lábios dela se pregavam um ao outro, como se entre eles houvesse cola. Os olhos rodavam pesadamente numa expressão embrutecida.
- Não...
Guardando a chave no bolso, ele retomou o caminho percorrido. No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos. E, de repente, o grito medonho, inumano:
- NÃO!
Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda.


Texto por Lygia Fagundes Telles.

sábado, 18 de setembro de 2010

Reticências


Vamos lutar e dizer que não existe mais nada.
Vamos dizer o que o sentimento acabou.
Vamos dizer que o nada habita nosso o nosso peito.
E que o nosso tempo já acabou.
Vamos dizer que amor cansou.
E que no final nada restou.
Vamos resistir.
Vamos lutar, relutar e não vamos nos entregar.
Vamos dizer que tudo mudou.
E tu vais dizer que não sabe mais quem eu sou.
Vamos dizer um simples "adeus", como se nossa história não valesse nada.
Vamos nos fazer de fortes.
E ao virar as costas vamos deixar a agua correr, as lagrimas vao escorrer sem parar, porque na verdade ainda há amor.
Mas o orgulho não é capaz de deixar tudo pra trás.
E nenhum de nós vai olhar pra trás, vamos seguir em frente, cabeça erguida, e as lagrimas correndo, e queimando pelo nosso rosto.
E o vazio nos acompanhando.
Ao chegar em casa ficarei ouvindo sua risada pelos corredores.
Ao ir deitar vou sentir falta do seu calor.
Ao acordar sentirei falta da sua cara inchada e do seu cabelo bagunçado.
Ao tomar café, vou sentir falta de fazer seu café.
No trabalho, sentirei falta das suas mensagens.
No almoço a cadeira estará vazia.
No fim do expediente voltarei pra casa, sozinha, sentindo o vento gélido no meu rosto.
Ao voltar pra casa, vou tomar um banho quente, sozinha.
Vou sentir sua falta, a falta do seu cheiro que enchia meus pulmões.
Vou sentir falta do seu toque, do seu olhar.
As lagrimas irão correr, e o silencio vai dominar meu lar, meu ser, minha vida.
E eu vou me fazer de forte.
Vou apagar seu numero da discagem rápida do meu telefone.
Vou tentar apagar as nossas memorias.
Vou esconder em algum lugar todas aquelas fotos espalhadas pela casa, e junto delas colocarei suas roupas.
Vou dizer que está tudo bem, que nada aconteceu.
Vou falar pras minhas amigas que você não faz falta.
Vou ligar pra minha mãe e dizer que tá tudo bem, e ela vai saber que não é verdade.
Minha voz não deixa mentir.
Eu sinto sua falta.
Mas ninguém precisa saber, é segredo.
Cá entre nós, ainda te amo, e não sei lidar com o fim.
Mas vou continuar minha vida, vou sair, beber, e fingir ser feliz.
Vou beijar outros.
Beberei.
E vou falar besteiras, fazendo de conta que tudo já passou, que o fim nunca me machucou.
Vou saber noticias suas, que você está com ela e já me esqueceu.
Vou falar que tudo bem, que não me importo. Afinal, nunca acreditei muito em nós dois.
Esse é o fim do nosso amor, esse é o fim de tudo.
Você vive sua mentira com ela.
Eu vivo minha mentira com ele.
Quando na verdade, a nossa verdade era eu e você ...

A procura.


Vivo procurando, preciso encontrar ...
procurando e esperando encontrar algo que encha minha cabeça
procurando e esperando encontrar algo que encha meu estomago
procurando e esperando encontrar algo que encha meu peito
procurando e esperando encontrar algo que encha meu ser
procurando e esperando encontrar algo que me encante
procurando e esperando encontrar um outro motivo que me leve a escrever, que não seja amor, não o seu amor, nem a sua falta
procurando e esperando encontrar um outro sorriso qualquer que me deixe boba
procurando e esperando que as palavras de um outro alguém mecham comigo
procurando e esperando encontar um outro alguém que me faça rir
procurando e esperando encontrar alguém que me ligue no meio do dia
procurando e esperando encontrar uma outra voz que me deixe com arrepio, um outro cheiro que me deixe mais calma,
vivo procurando um outro abraço que me tire do ar por alguns momentos.
Procurando um outro alguém que não seja você.
Procurando qualquer coisa que não me lembre você.
E espero encontrar ...

Procuro olhar pro céu só por diversão, não porque ele me lembra você.
Tentando dizer que todas as canções de amor não me lembram você e tudo o que vivemos.

Tentando parar com você.

Por um mundo melhor!


O mundo precisa ser um lugar melhor, precisamos mudar.
As pessoas precisam aprender o verdadeiro valor da amizade.
As pessoas precisam aprender a valorizar o que temos por dentro, e não só a aparência. Aparência é o de menos.
Devemos saber que a natureza possui um valor bem maior que o dinheiro.
O homem nunca vai aprender.
Cadê seus valores ? de onde você vem ? e por que age assim ?
É errado, precisamos de um mundo melhor, mais verde, por conta da natureza, e não mais verde por conta de notas de dinheiro.
Dinheiro é papel. Não vale nada. Se o mundo não mudar, se o homem não revisar seus atos, vai chegar o momento que ele irá comer notas de dinheiro pra sobreviver, se isso vale tanto, é disso que ele vai sobreviver, de dinheiro.
E o amor ? onde fica ? cadê o amor próprio ?
Só vejo pessoas se odiando, e odiando uma a outra. Não vejo ninguém se ajudando.
Só vejo pessoas derrubando umas as outras. Um querendo ser melhor e maior que o outro.
E esse amor louco de jovens sem valores que mata ?
Desde quando é preciso viver por alguém ? desde quando é preciso tirar a vida de outro ou de si mesmo pra provar o que o amor existe ?
Que amor louco é esse ?
Revisem seus conceitos.
As coisas não são tão complicadas assim.
E muito menos culpem a Deus os seus erros, e se algo na sua vida dá errado.
Deus não tem nada a ver com isso.
Ele nos deu a vida, e um mundo.
E cabe a NÓS MESMOS cuidar da nossa vida e de nosso mundo da melhor forma.
É a nossa missão.
Pare e pense: Você age certo ?
Pois bem, eu não ago. Tentarei ser melhor. Vamos nos renovar, vamos mudar!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010


- Ele não gosta de chuva.
- Por que ?
- Quando chove, ele não pode sair de casa.

- Eu gosto de chuva.
- Por que ?
- Assim tenho uma desculpa pra não ter que sair de casa.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O mundo gira e bota tudo no lugar.


Hoje eu vejo como foi injusto pra nós a forma em que tudo acabou. Não tinha uma saída. Era o fim, ou o fim. Doeu tanto. Doeu em mim. Doeu muito em você. E sinceramente, a sua dor me machuca bem mais, muito mais do que o fato de ter ficado sem ti. Poderia me conformar com o fim de tudo se soubesse que você, em momento algum, sofreu por mim. Infelizmente sei que não é verdade. Sofremos.
Mas ainda acho que o que é seu, ninguém tira.
Não me venha com essa história de "Até nunca mais, meu amor", nunca mais é muito tempo.
O mundo gira. Ele é pequeno.
Se for pra continuar, vai acabar um dia que vamos tropeçar um na vida do outro.
E eu fico imaginando como vai ser.
Nós dois, sentados, conversando sobre tudo o que passamos, e desabafando sobre como foi a dor de ver um amor tão imenso se acabar por culpa de terceiros.
E eu sei que vou olhar dentro dos seus olhos, que sempre mecheram comigo e vou lhe dizer o quanto te amei, e que depois de você, nunca mais fui capaz de amar alguém.
E eu sei que vou rir de você, por você dançar Calypso, e ainda irei lembrar de cada detalhe de tudo o que passamos juntos, das conversas, planos, risadas e choros.
E vamos ficar horas e horas, acabar esquecendo os compromissos, só pra jogar conversa fora.
E você vai me contar como foi sua vida sem mim, o que aconteceu em todo o tempo que ficamos sem nos falar.
E eu vou te contar como minha vida mudou, e como você me ajudou a crescer, mesmo tã distante. E eu vou te dizer que suas palavras, sempre me ajudaram muito quando eu mais precisei. E de alguma forma, eu sabia que você estaria comigo. Por força de pensamento, lembra ? Porque nunca estaremos separados. Ainda acredito nisso.
Ainda acredito que um dia ou outro te vejo perdido por aí.
E daí, ninguém, vai poder roubar o meu momento com você. E ninguém vai poder desviar meu caminho do seu.
Por um momento, seremos eu e você. Novamente.
Como deveria ser.

Te encontro numa noite qualquer. Onde a unica coisa que irá nos iluminar será a Lua Cheia e as estrelas que enfeitarão nosso céu, meu amor, meu bebê, meu pequeno L.
Eternamente, meu guri mais bobo, que chora com Marley e Me, e é apaixonado por Big Mac, meu gremista mais lindo. E que incrivelmente, me amou como ninguém.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Solidão, te quero.


Talvez fosse melhor ser uma casa fechada.
Sem hospedeiros.
Uma casa escura, e que nela só habitasse a solidão. Nada mais.
Nenhum sentimento, nenhuma pessoa.
Nada.
Ninguém poderia destruir minhas paredes dessa maneira.
Com o tempo, quem sabe , elas acabariam ficando velhas, e danificadas.
Mas depois de muito tempo.
Quase perto da morte.
Queria ser uma casa vazia.
Quero ser uma casa vazia.
E que a solidão me faça companhia.

17:17


Meu corpo é uma casa.
Meu coração é a parede.
Paredes são frágeis, qualquer simples caneta ou lápis já é capaz de causa um pequeno dano nela.
Paredes podem ser coloridas, ou não. Com detalhes ou não. Fortes ou não. Nenhum igual, todas diferentes.
Em algumas paredes existem fotos, molduras, pôsteres.
Mas todas são iguais em uma coisa : são frágeis.
No começo, minha parede é nova, branquinha, lisinha, sem nenhum arranhão.
Com o tempo, minhas paredes acabam sendo danificadas por conta de moveis esbarrando nela, e causado pequenos, ou então, grandes arranhões.
Com o tempo, e com a umidade minhas paredes começam a descascar.
Com o tempo, a cor da minha parede acaba desbotando.
Com o tempo, minhas paredes vão sendo destruídas.
E dói.
Cada hospedeiro, que reside dentro de mim, seja por muito ou pouco tempo, acaba destruindo um pouco de minha parede.
Ela nunca mais foi a mesma depois que decidi deixar de ser uma casa vazia.
Ela nunca mais esteve inteira.
E eu a quero de novo.
Meu coração é uma parede.
Um pedreiro pode tanto destruir como consertar os danos causados numa parede.
O amor também.
Mas digamos que o meu pedreiro não seja bom.
Minhas paredes não estão em boas qualidades.
Cuidado. Elas podem desmoronar.
E eu também.